5 mitos sobre TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

TDAH – transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é cercado por dúvidas e uma “aura” intocável tanto pelos pais, adolescentes quanto dos adultos que convivem com os sintomas da doença há décadas.

mitos sobre tdah

Afinal, o que é TDAH? Quais são sintomas e como deve ser feito o diagnóstico? Trata-se de um problema da “sociedade moderna”? O tratamento pode, de fato, causar dependência química ou “turbinar” o cérebro de pessoas saudáveis? O tratamento de quem tem TDAH consiste apenas na administração de medicamentos?

Já falamos sobre TDAH antes:

TDAH – visão geral

App ajuda pacientes com TDAH

Hoje existe um portal exclusivo para esclarecer essas dúvidas e disponibilizar conteúdo com respaldo científico e linguagem acessível, integralmente dedicado ao tema. “Acima de tudo, queremos esclarecer que a maioria das crianças, adolescentes e adultos sem TDAH pode apresentar alguns sintomas da doença em momentos isolados de suas vidas, e que isso de forma alguma caracteriza ou significa que tenham o transtorno”, explica Dr. Rogerio Morihisa, psiquiatria da Infância e Adolescência. O médico explica também que o diagnóstico do TDAH é complexo e pode ser demorado. “É preciso que haja cautela tanto em relação à confirmação da doença quanto às possibilidades de tratamento, que vão muito além do uso de medicamentos”, afirma.

Apesar de o termo “TDAH” ter se popularizado nos últimos anos, a doença foi descrita pela primeira vez em 17981. Dois séculos depois, inúmeros estudos permitiram seu entendimento mais amplo, o que trouxe possibilidades de qualidade de vida e inserção social das pessoas que convivem com a doença, em todas as fases da vida.

5 mitos sobre TDAH

1. Desatenção é TDAH

Para entender o que é o TDAH, é preciso saber o que NÃO caracteriza o transtorno. Para isso, é fundamental ter em perspectiva que nem toda criança, adolescente ou adulto que apresenta sinais de agitação (hiperatividade), desatenção e/ou impulsividade tem TDAH. Entre as crianças, por exemplo, de 5 a 8% têm TDAH6, embora a maioria delas possa apresentar alguma dessas características em determinado momento da vida. Já a incidência entre adultos, por exemplo, é ainda mais baixa3.

2. O tratamento do TDAH causa dependência química

Estudos relatam que o risco de alcoolismo e dependência química de drogas ilícitas é até dez vezes mais comum em pessoas com TDAH do que naquelas que não têm a doença7.Por isso, o tratamento feito com o medicamento adequado, de acordo com prescrição médica e as recomendações da bula, pode na verdade diminuir o risco do abuso de drogas ilícitas, ao aliviar os sintomas do TDAH. Quanto antes se iniciar o tratamento com psicoestimulantes, menores os riscos do uso de drogas na adolescência8.

3. O tratamento do TDAH “turbina” o cérebro de pessoas sem o transtorno

De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a medicação para TDAH “não promove a melhora cognitiva em pessoas saudáveis” (ou seja, naquelas que não têm TDAH). A pesquisa foi realizada após o crescimento no uso indevido da medicação por estudantes e pessoas sem o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade que prestam concursos (chamados de “concurseiros”), por acreditarem que teriam mais chances de sucesso, ou que ficariam “mais inteligentes” com o uso da medicação9.

4. Existem mais crianças com TDAH hoje do que antigamente

Há crianças sendo erroneamente diagnósticas, de acordo com Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. Por outro lado, há crianças que têm TDAH, mas não têm acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequados para o transtorno. Entenda!

  • Falta de diagnóstico: estimativas apontam que, em média, cerca de 50% dos indivíduos menores de 18 anos de idade com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ainda não foram diagnosticados e não estão em tratamento8 – esse número pode ainda ser maior em regiões mais pobres, onde há menos acesso à saúde de forma geral. Se considerarmos a população adulta (maior de 18 anos), o cenário é ainda pior: até 80% daqueles com TDAH não recebem o diagnóstico e, consequentemente, o tratamento adequado.9-11
  • Excesso de diagnóstico: segundo estudos, pode sim haver um excesso de diagnóstico em outros grupos da população. Em 2014, o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos reportou que, por lá, uma a cada 9 crianças havia recebido o diagnóstico de TDAH (um aumento significativo em relação a década anterior). Ainda nos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade de Berkeley, na Califórnia, acreditam que pode haver uma relação entre o excesso de diagnóstico e a pressão cada vez maior para que as crianças tenham melhor desempenho escolar.12Por fim, alguns dados de excesso de diagnóstico podem estar relacionados a indivíduos que não têmTDAH, e fazem uso errado da medicação para outras finalidade que não o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
  • Erros de diagnóstico: o diagnóstico do TDAH é bastante complexo e há uma série de doenças que apresentam sintomas similares e podem ter seu diagnóstico confundido. Além disso, há diversas doenças que estão relacionadas ao TDAH, que se manifestam simultaneamente, no mesmo paciente (chamadas comorbidades), e que também dificultam o diagnóstico correto. Entre elas estão os distúrbios do sono, transtorno bipolar, autismo e transtorno de processamento sensorial, dentre outras.13

5. O TDAH É UMA DOENÇA “NOVA”

O fato de o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ter recebido diversos nomes ao longo dos séculos faz com que o nome TDAH, como se conhece hoje, seja muito recente.1-5 Essa é uma das razões pelas quais algumas pessoas ainda acreditam que a doença foi “recentemente inventada”, ou que sua existência é resultado exclusivo da “hiperestimulação da sociedade moderna”.

O fato de o diagnóstico do TDAH ser predominantemente clínico, ou seja, a partir da observação dos sintomas pelo médico,2 era um argumento constante daqueles que desconfiavam da existência do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Hoje, entretanto, as imagens de ressonância magnética e avaliações de biomarcadores específicos já são capazes de demostrar as alterações cerebrais entre pessoas com e sem TDAH.6,7

Vale ressaltar, que o diagnóstico predominantemente clínico não ocorre exclusivamente para oTDAH, como para diversos outros transtornos neuropsiquiátricos, como a doença de Alzheimer, doença de Parkinson, depressão, transtorno bipolar, entre outros.

Informação de qualidade nunca é demais ne?

Bora compartilhar e eliminar os mitos sobre TDAH.

beijos
Lele

Referências
1. Crichton, Alexander: An inquiry into the nature and origin of mental derangement: comprehending a concise system of the physiology and pathology of the human mind and a history of the passions and their effects. Vol I. London: printed for T. Cadell, Junior, and W. Davies, in the strand. 1798.
2. Site da Associação Brasileira de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Disponível em http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/964-entenda-o-tdah-nos-crit%C3%A9rios-do-dsm-v.html. Último acesso em 13 de agosto de 2015.
3. Site da Associação Brasileira de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Disponível em http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/964-entenda-o-tdah-nos-crit%C3%A9rios-do-dsm-v.html. Último acesso em 13 de agosto de 2015.
4. Some abnormal psychical conditions in children: the Goulstonian lectures. The Lancet, 1902;1:1008-1012.
5. Site do The American Journal of Psychiatry. Disponível em http://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/ajp.97.5.1194. Último acesso em 9 de agosto de 2015.
6. Site do National Institutes of Mental Health. Disponível em http://www.nimh.nih.gov/news/science-news/2007/brain-matures-a-few-years-late-in-adhd-but-follows-normal-pattern.shtml. Último Acesso em 29 de agosto de 2015.
7. Site HealthLine. Disponível em http://www.healthline.com/health/adhd/the-brains-structure-and-function#1. Último acesso em 29 de agosto de 2015.
8. Froehlich TE, Lanphear BP, Epstein JN, et al. Prevalence, Recognition, and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in a National Sample of US Children. Arch Pediatr Adolesc Med. 2007;161(9):857-864
9. Fayyad J, De Graaf R, Kessler R, et al. Cross-national prevalence and correlates of adult attention-deficit/hyperactivity disorder. Br J Psychiatry. 2007;190(5):402–409.
10. Retz W, Retz-Junginger P, Thome J, et al. Pharmacological treatment of adult ADHD in Europe. World J Biol Psychiatry. 2011;12(suppl 1):89–94
11. Newcorn JH, Weiss M, Stein MA. The complexity of ADHD: diagnosis and treatment of the adult patient with comorbidities. CNS Spectr. 2007;12(suppl 12):1–14. quiz 15–16
12. Site Berkeley University. Disponível em http://www.berkeleywellness.com/healthy-mind/mood/article/adhd-overdiagnosed. Último acesso em 14 de setembro de 2015.
13. Site Healthline. Disponível em http://www.healthline.com/health/adhd/adhd-misdiagnosis#2. Último acesso em 14 de setembro de 2015.
14. Site Psiquiatria Unifesp. Disponível em http://www.psiquiatria.unifesp.br/sobre/noticias/exibir/?id=186. Último acesso em 14 de setembro de 2015.
15. Site WebMD. Disponível em http://www.webmd.com/add-adhd/adhd-and-substance-abuse-is-there-a-link. Último acesso em 14 de setembro de 2015.
16. Site WebMD. Disponível em http://www.webmd.com/add-adhd/adhd-and-substance-abuse-is-there-a-link?page=2. Último acesso em 14 de setembro de 2015.
17. Site National Health Institutes (NIH). Disponível em: http://www.drugabuse.gov/publications/drugfacts/stimulant-adhd-medications-methylphenidate-amphetamines. Último acesso em 14 de setembro de 2015.

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9 comentários em "5 mitos sobre TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade"

  1. Michele Gobbato disse:

    Adorei o post, ótimas informações

    Bjs Mi Gobbato – Espaço das Mamães

  2. Adri disse:

    Excelente post Lelê. Muitas mães procuram saber sobre o tema e outras simplesmente evitam achando que os filhos não precisam de ajuda.
    Acho esse assunto delicado e precisamos compartilhar para que mais pessoas tenham acesso.

    1. Muito delicado mesmo!!
      Espero que ele ajude as mães e pais!
      beijos

  3. tatiana disse:

    Nossa, Lê, super explicativo seu post. Devemos ficar atentos aos sinais, mas sem criar esteriótipos e medicalizar tudo. Obrigada pelas dicas.

    1. Sou bem contra os medicamentos ate que se feche o diagnostico…
      Mas precisa acompanhar ne?
      beijao
      Le

  4. Aline Patrícia disse:

    Oi, adorwi o post, li um livro recentemente sobre o tema, mas antes não sabia nada a respeito. Achei bastante útil e informativo!

  5. Tatiane disse:

    Informações de qualidade são sempre um prazer ler! Eu sempre tive dúvidas sobre o assunto e algumas você esclareceu aqui. bj

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