Coisas que aprendi sobre ser pai

A vida é mesmo muito boa comigo.

Há uns bons anos eu conheci o Rafael Rez num grupo de design gráfico e me tornei “colunista” do seu portal de conteúdo, o GRITO, onde eu falava sobre design e UX, e era um lance bem old school.

Os anos passaram, perdemos o contato, mas por uma grande amiga em comum nos reencontramos. Mal sabia eu que o Rafa do Grito, era “o cara” do Marketing de Conteúdo que eu acompanhava nas redes sociais. Pois é! E mal sabia eu o paizão que ele era (e é!). Foi uma grata surpresa.

Rafa, estou muito feliz por ter você aqui, nessa semana especial de dia dos pais! OBRIGADA!!!

E aos leitores: aproveitem esse relato incrível, cheio de boas referências!

3 gerações - Gaspar, Rafael e Pedro

3 gerações – Gaspar, Rafael e Pedro

Você está pronto para ser pai?

Quando a Lelê me convidou a escrever sobre ser pai, só uma coisa me vinha à mente. Eu tive um pai muito, muito legal. Desses excepcionais mesmo, sem comparação. Quase todos os meus amigos acham meu pai um dos caras mais legais que eles conhecem.

Este texto é uma homenagem ao meu pai, o melhor exemplo de pai que conheço, o meu modelo de homem e de caráter, e um pai que me inspira a ser tão bom quanto ele foi e continua sendo. Também é uma homenagem a todos os caras que abraçam esta missão e que fazem a diferença na vida de seus filhos sendo o melhor pai que podem ser.

“Você está apaixonado por ser pai!”

Ouvi esta frase de uma amiga há algumas semanas, e foi aí que a ficha caiu. Realmente, estou há oito anos apaixonado por ser pai. Depois de oito anos sendo pai de menina, agora começa uma nova descoberta: ser pai de um menino, o Pedro, que acabou de nascer.

Nosso pequeno nasceu num parto domiciliar, no último 31 de julho, as 4h23 da manhã. Fui eu quem o pegou assim que saiu da barriga da mãe, olhei bem pra ele e coloquei no colo dela, aconchegado e recebido com toda a calma, sem aquele stress todo de Hospital. Ele não chorou nas primeiras horas de vida, apenas ficou junto a nós e à equipe de parto domiciliar. Foi a experiência de vida mais intensa que já vivi. Se você quiser saber mais sobre parto natural, recomendo começar pelo documentário “O Renascimento do Parto” (Site Oficial e Facebook). Sem apologia de certo ou errado, apenas uma dica: o conhecimento liberta!

Para nós, homens, é meio estranho. As pessoas dizem: “ele vai ser pai de um menino”, porque o bebê ainda não nasceu. Na verdade, você já é pai, só não viu a cara do bebê ainda. Para as mulheres a maternidade começa junto com a gravidez: são elas que veem o corpo mudar, que carregam a barriga, que dormem mal, que sentem os chutes do bebê. O homem “vira pai” no parto.

Depois dessa última gravidez, posso dizer que não precisa ser assim. Estivemos grávidos, os dois.

“Não estou pronto para ser pai”

Eu estava no meio da Faculdade quando minha namorada me contou que estava grávida, e decidimos que iríamos casar dali 90 dias. Se não casássemos naquele momento, sabíamos que a vida ficaria corrida depois e demoraríamos anos para nos casar. Só não imaginávamos o quanto a vida ficaria corrida…

Casamos em dezembro de 2006, a Carolina nasceu em maio de 2007. Em setembro, a Érica (minha esposa) fez uma cirurgia para retirar a vesícula, que acumulava pedras enormes. Semanas depois, no inicio de outubro, sofri um acidente na Rodovia Regis Bittencourt, capotei o carro numa ladeira, fissurei uma vértebra e fraturei outra. Fiquei três meses de cama, e mais alguns fazendo hidroterapia, fisioterapia e voltei lentamente a trabalhar em 2008. Por sorte eu estava sozinho no carro e fui avistado pelo carona de caminhoneiro, eles me tiraram do carro e chamaram o resgate. Nunca soube quem são, nem pude agradecer.

Quando capotei o carro, a Carolina tinha apenas 5 meses de idade. Nos meses em que fiquei em recuperação, ela ficava grande parte do dia na cama comigo. Uma criança desta idade dorme mais da metade do dia, então fazíamos companhia um ao outro. Vi ela aprender a sentar, a engatinhar, ensinei a dar beijo, ouvi ela dizer pela primeira vez: “papai”. Não tenho memória da dor, apenas da companhia dela. Minha filha me salvou.

Nos momentos em que a dor alcançava seus picos, eu olhava para o lado e segurava a mãozinha daquela pequena princesa. O que me movia era a única pergunta que fiz aos médicos: “Vou poder segurar minha filha no colo novamente?” A resposta categórica deles me deu a certeza que eu precisava: “Sim, siga o tratamento à risca e tudo vai dar certo”.

Eu me recuperei completamente do acidente, mas a Érica ficou com uma sequela da cirurgia: uma gaze, que só foi retirada três anos depois, quando a descobrimos num exame para outra coisa. Ainda bem que casamos lá em 2006, porque a vida não esperou para nos dar um desafio após o outro.

Em 2009 descobri este vídeo no TED, um TED Talk de 5 minutos sobre as três coisas que um cara chamado Ric Elias descobriu sobre a vida enquanto o avião em que estava caía no Rio Hudson.


Todas as vezes em que as coisas ficaram difíceis nestes últimos anos – e acredite, as coisas ficaram bem difíceis em vários momentos – voltei e reassisti este vídeo. É como se ouvir Ric reafirmando que a coisa que mais importa na vida é ser o melhor pai do mundo fosse o antídoto para qualquer problema, dificuldade e sentimento negativo na vida. Funciona comigo, talvez funcione para você. No mínimo você ganha 5 minutos na vida vendo este vídeo!

Ao longo dos anos nos acostumamos a ouvir os amigos dizendo o quanto a Carolina é uma criança boa, tranquila, educada, carinhosa. Alguns amigos mais próximos até brincam que se a clonagem humana fosse possível, eles gostariam de clonar a Carolina. Sempre digo que não sei o que fiz para merecer, mas tenho a melhor filha do mundo.

Se você acha que não está pronto para ser pai, acertou. Você nunca estará pronto, vai aprender na prática mesmo.

Ser pai é uma missão

Sou pai há oito anos, e continuo não me sentindo “preparado” para ser pai. Aprendo todo dia “como ser pai”. Não existe curso sobre como ser um bom pai. Não tem diploma, não tem certificado. O que existe, na minha visão, é uma intenção. Querer acertar, dar o exemplo, transmitir valores, ensinar o certo e o errado, dar instrumentos que os ajudem a enfrentar o mundo lá fora.

Todos nós desempenhamos vários papéis na vida: ser profissional, ser marido, ser filho, ser amigo, ser pai. Ao contrário dos outros papéis, ser pai é uma missão. Podemos trocar de profissão, de emprego, de amigos, de esposa/marido. Mas nossos filhos são permanentes. Os filhos são nossa missão maior, e a única na qual não queremos errar de jeito nenhum.

Me lembro de quando era criança e fui com meu pai e minha irmã na PUC buscar o Diploma de Administração de Empresas dele. Foram 12 anos até se formar. Quando a grana apertava, ele trancava o curso e voltava depois, quando a situação permitia. Mas eu e minha irmã sempre estudamos na melhor escola da cidade, durante 15 anos. Ele sempre abdicou de si por nós.

Depois de adulto, abandonei uma Faculdade na PUC e outra na UNICAMP. Meu pai me cobrava, dizia que eu deveria terminar um curso e ter um Diploma. Ele via a história dele se repetindo comigo, e queria o melhor para mim. Ainda que eu soubesse que um Diploma quase não serve para (quase) nada quando se é empreendedor, acatei o conselho e me formei em alguma coisa. A Carolina nasceu no mesmo semestre em que me formei.

Sempre que penso na educação da Carolina, e agora na do Pedro, me lembro dos sacrifícios que meus pais fizeram para nos dar uma educação de qualidade. Tenho muito orgulho deles. São meus heróis. A mesma missão que eles realizaram, agora é nossa.

Ser pai me fez querer ser uma versão melhor de mim mesmo

Em maio (de 2015), palestrando no evento OlhóCON, conheci um figura chamado Marcos Piangers. O Piangers faz um monte de coisas, entre elas um programa de áudio com milhões de fãs, e é um cara apaixonado por ser pai.

Comecei a ler os textos dele, e me identifiquei demais com este aqui. Para estragar a surpresa (caso você não leia o texto todo), vou pular direto para a conclusão:

“Então, você e sua companheira estão grávidos. Então, você sabe que não precisa de uma casa maior, de um carro melhor, nem da melhor fralda, nem da melhor creche. Você sabe, no fundo, que só precisa estar lá. De verdade.”

Este texto teve um impacto gigante em mim. Ao contrário da nossa primeira gravidez, em que ainda estávamos construindo a vida, casando, dando um rumo na carreira, oito anos depois vivemos um contexto completamente diferente.

Saí da minha primeira empresa quando a Carolina tinha 3 anos e montei outra. Vendi um pedaço dela e montei uma terceira. Entrei em quatro negócios diferentes desde 2010. Comecei a dar aulas. Palestrei em dezenas de eventos. A carreira decolou e me vi fora de casa em 41 dos 52 finais de semana do ano em 2014. Não era bem isso que havia planejado…

 “Eu sei que você tudo isso pensando em nós, mas só quero que você esteja aqui”

Minha esposa sempre me apoiou demais na minha carreira. Ser empreendedor não é moleza. Trabalha-se muito, e muitas vezes ganha-se menos do que num emprego. Sempre que a ouvia dizer que sentia minha falta em casa, me sentia mal por estar longe. Quando a Carolina dizia “Papai estou com saudade” doía na alma.

O segundo semestre de 2014 foi terrível para o meu principal negócio. No final do ano, eu tinha zilhões de problemas a resolver e poucas perspectivas de melhora no cenário. Pairava no ar uma vontade louca de mudar o negócio, e ao mesmo tempo o medo de arriscar e prejudicar a família. Até que veio a notícia: “estou grávida”. Foi o estopim da mudança.

A natureza é sábia, e planejou os tais nove meses da gravidez de forma estratégica! É tempo suficiente para ajeitarmos a vida e nos prepararmos para chegada de um filho ao mundo. Nos últimos nove meses, encerrei uma série de compromissos profissionais, deixei de aceitar um monte de convites para aulas, eventos e palestras e conclui 99% dos projetos que tinha em mãos, tudo para poder tirar um mês de licença e curtir a chegada do Pedro como acho que deve ser.

Mas a maior mudança aconteceu na visão de mundo: não quero mais viver para trabalhar, quero trabalhar para viver. Os negócios continuarão a ser parte importante da vida, mas a missão maior, a de ser pai, está acima de todo o resto.

Foi preciso ver outros homens tomando esta decisão para ver que era possível, e me organizar para fazer o mesmo. Foi preciso conhecer Piangers. Foi preciso apanhar muito. Mas dá sim, depende mais de nós do que do mundo. Um livro que me ajudou neste processo foi o Essencialismo.

Antes, eu sentia que meu esforço era o de trabalhar pela família. Hoje, cada vez que trabalho mais do que quero, volto para o foco: quero estar junto das crianças. Vê-los crescer, conversar com eles, viver a infância junto deles.

Aprendi que o que importa é estar presente. Não apenas fisicamente, mas espiritualmente. Essa foi a lição mais importante de todas: ser pai não é apenas prover os recursos que eles precisam, é prover o exemplo que eles precisam.

Obrigado pai por ter sido o meu exemplo. Parabéns a todos os pais que são o exemplo para os seus filhos. A gente sabe que não é fácil, mas se fosse fácil não precisava ser com a gente, podia ser qualquer um.

Feliz Dia dos Pais! #tamojunto

UAU! Inspirador né?
Obrigada mais uma vez.

beijos
Lele

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